Arruda foi à casa de Roriz durante a semana, onde selou acordo para encabeçar chapa majoritária
Candidatura de José Roberto Arruda pode ser colocada em xeque, caso ele seja condenado em segunda instância pela Justiça em algum dos processos aos quais responde. Advogado do ex-governador diz que, por enquanto, não existem impedimentos.
A primeira eleição sob a vigência da Lei da Ficha Limpa ocorrerá em
clima de suspense no Distrito Federal. As atenções estarão voltadas
principalmente para uma das trincheiras definidas até o momento: aquela
que tem à frente o ex-governador José Roberto Arruda (PR), que definiu
esta semana um acordo com a família Roriz. O interesse tem relação com
as condições legais do pré-candidato concorrer em 5 de outubro. Hoje,
ele está apto à disputa, mas, caso tenha condenação de órgão colegiado
nos processos aos quais responde, pode ficar em uma situação complicada.
Isso porque a lei torna inelegíveis aqueles que forem condenados em
segunda instância.
Para a defesa de José Roberto Arruda, a situação de elegibilidade não deve ser
discutida atualmente. “É preciso deixar muito claro para a população do
Distrito Federal que, hoje, o ex-governador está no pleno exercício da
cidadania. Não existem dúvidas quanto a isso. Perante a legislação, ele
pode ser candidato a qualquer cargo que se interessar, caso vá disputar
mesmo alguma coisa. As condenações que existem são de primeira instância
e cabem recurso”, explica o advogado Edson Smaniotto, que representa o
ex-governador.
De qualquer forma, os prazos eleitorais agora passam a significar muito
para as pretensões do grupo que reúne arrudistas e rorizistas. Até a
data do registro das candidaturas, em 5 de julho, caso o ex-governador
tenha uma condenação de segunda instância, o direito de ele sair
candidato é colocado em dúvida. Após essa data, a tese predominante é de
que só pode ser contestada a diplomação, caso seja eleito. “Em qualquer
um dos momentos, ele pode recorrer com efeito suspensivo à instância
superior para ter o direito de concorrer. Mas, daí, terá de correr
riscos”, explica um advogado especialista em direito eleitoral.
Até 15 de setembro, pode ser feita a troca dos nomes dos componentes da
chapa encabeçada por José Roberto Arruda e que tem a distrital Liliane Roriz (PRTB),
filha do ex-governador Joaquim Roriz, como vice. Depois disso, não há
mais tempo, e a composição estaria consolidada. “A posição que prevalece
no direito eleitoral é a de que, após a diplomação, caso o registro da
candidatura seja cassado, a chapa toda será inviabilizada”, explica o
jurista Álvaro Versiani, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). Nessa hipótese, existe a possibilidade de que o segundo colocado
assuma ou que sejam convocadas novas eleições.
Decisões
O ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal contabiliza três
condenações nas instâncias iniciais. A mais antiga delas é no Tribunal
Regional Federal (TRF) da 1ª Região. Em fevereiro de 2012, ele foi
responsabilizado pela Justiça pela violação do painel eletrônico do
Senado. O fato ocorreu em 2000 durante a votação para análise da
cassação do então senador Luiz Estevão (que era do PMDB e hoje preside o
PRTB no Distrito Federal). Pelo tempo que demorou para tramitar, não há
qualquer previsão de chegar à segunda instância ainda este ano.
Outro caso é o das denúncias relacionadas com supostas irregularidades
na realização do jogo entre Brasil e Portugal, no Estádio Bezerrão, no
Gama, em 2008. A 1ª Vara da Fazenda Pública do DF condenou Arruda, em
fevereiro deste ano, ao pagamento de multa e perda dos direitos
políticos por quatro anos por improbidade administrativa. As regras da
Lei de licitações não teriam sido seguidas. A ação penal desse caso,
apesar de já ter sido aceita pela Justiça, ainda não teve início porque
os réus não foram citados.
A terceira situação tem relação com as denúncias sobre a existência de
um suposto esquema de pagamento de propina no Executivo a políticos e
autoridades no DF, entre 2006 e 2009. Arruda foi condenado por
improbidade em dezembro do ano passado, com a deputada federal Jaqueline
Roriz (PMN), o marido dela, Manoel Neto, e o delator Durval Barbosa.
Jaqueline e Manoel Neto foram filmados recebendo dinheiro de Barbosa. A
ação penal relacionada à Caixa de Pandora foi desmembrada pelo Superior
Tribunal de Justiça (STJ) no ano passado e voltou para as instâncias
iniciais.
5 de julho - (três meses antes da eleição). Data final para registro das chapas e candidaturas.
15 de setembro - (20 dias antes). Prazo para mudar a composição das chapas.
5 de outubro - Dia das eleições, que vão escolher governadores, deputados e senadores.
Contra a corrupção
A Lei da Ficha Limpa surgiu a partir de um movimento deflagrado em 1996
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Naquele ano, a
entidade incluiu o tema “política” na Campanha da Fraternidade, feita
anualmente. A coleta de assinaturas do Projeto de Lei Popular teve
início em fevereiro de 1997. As assinaturas (mais de 1 milhão) foram
entregues ao Congresso Nacional em setembro de 2009.
O projeto foi aprovado pelos deputados federais e pelos senadores em
maio de 2010, em ano eleitoral. A Lei Complementar nº 135 enfrentou
questionamentos jurídicos e só passará a vigorar, de fato, na sucessão
deste ano. Em síntese, a norma torna inelegível, por oito anos, os
candidatos ou políticos que tiverem os mandatos cassados, renunciarem
para evitar a cassação ou forem condenados por decisão de um órgão
judicial colegiado (com mais de um magistrado), mesmo que exista
instância superior para recurso.
Fonte: Almiro Marcos - Correio Braziliense.
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